O Ramadão

O Ramadão é o nono mês do calendário islâmico e o mais importante para os muçulmanos. É considerado um período de auto-avaliação e um despertar da espiritualidade através do jejum e da reza. O Ramadão relaciona-se assim com a autodisciplina, a humildade e a caridade.

O Ramadão inicia-se quando é avistada a lua em quarto crescente. Este facto é decidido por um grupo de escolásticos mulçumanos, que comunicam em seguida o inicio deste mês. Esta decisão pode ser um pouco confusa, pois só quando eles anunciam é que é oficialmente Ramadão. Portanto, por vezes não se sabe ao certo o dia…

O jejum diário termina ao pôr-do-sol, aquando da chamada para a reza, com uma refeição chamada Iftar, que tradicionalmente é composta de tâmaras e água, ou leite.

No Qatar, é proibido por lei comer, beber ou fumar em público durante o dia, o que pode ser bastante complicado para quem não jejua. Normalmente nas empresas há um local fechado onde se pode comer e beber e há também alguns (poucos) restaurantes abertos. Mas como o calor tem apertado nesta altura, o melhor é mesmo tentar estar em casa durante o dia e sair pela noite!

Note-se também que durante o Ramadão há lei seca, ou seja, os bares e a “loja do álcool” estão fechados e apesar dos restaurantes estarem abertos, não se vende álcool em lugar algum!

Outra coisa que complica um pouco a vida são os horários do comércio e serviços. A maioria abre de manhã e depois novamente pela noite, mas varia imenso de sítio para sítio. Aqui está uma lista dos horários para este ano.

Por outro lado, há actividades nocturnas, decorações, tendas especiais para o Iftar e iluminação de rua. Por exemplo, esta é na Katara, este ano:

Foto: Aar Photography

No 14º dia do Ramadão, há o Garangao, uma tradição apenas da Península Arábica. Este é um dia dedicado às crianças, no qual se vestem com roupas tradicionais e vão de casa em casa para receberem doces com uma sacola de linho e cantando a música do Garangao. É uma dia quase estilo “Halloween”. Normalmente há imensas actividades para crianças nesse dia e doces são distribuídos em muitos sítios.

O Ramadão termina com o Eid Al Fitr, uma celebração que começa no primeiro dia do mês seguinte, o Shawwal. Neste dia, as pessoas vestem as suas melhores roupas, adornam as suas casas, dão presentes às crianças e visitam amigos e família.

Um pouco da História do Qatar...

Entre 5000 e 3500 AC as áreas costeiras do Qatar e das terras circundantes eram habitadas por uma população nómada que sobrevivia através da caça e da pesca. A Península do Qatar emergiu como uma das mais ricas localizações no golfo devido às trocas comerciais durante o segundo e o terceiro milénio AC. O comércio entre a Mesopotâmia e o Vale Hindu era canalizado através do golfo e a costa do Qatar tinha um papel vital como entreposto comercial.

Esta península foi atraindo migrantes sazonais durante este período, tais como os Babilónios, Gregos, Romanos e Persas. As pérolas e o peixe seco eram na altura e continuaram a ser os maiores produtos para exportação, até à descoberta do petróleo.

No início do século XVI, a Península do Qatar, juntamente com o resto do golfo ocidental ficaram sob hegemonia dos portugueses (sim, dos portugueses!). Com base no estreito de Hormuz, o ponto estratégico mais importante do Golfo, os portugueses conquistaram o Qatar em 1515. Este era mais um porto para as suas rotas comerciais. Após quase um século, e depois de várias tentativas dos Otomanos, que entretanto já dominavam a área, os portugueses foram finalmente forçados a sair da zona em 1652 pelo Imã de Mascate.

O Islamismo chegou a toda a região árabe no século XVII, deixando ultrapassadas as religiões locais. É também neste século que o Império Britânico entra em acção, estabelecendo-se no Qatar com o pretexto de proteger as rotas comerciais com a Índia.

No século seguinte, a confederação tribal Bani Khalid, que dominava a arábia oriental estendeu o seu poder ao Qatar e ao Kuwait. Segue-se um período conturbado entre estes últimos, os otomanos, os sauditas e os ingleses. Em 1847, o líder da tribo Al-Thani muda-se para Doha e fazendo alianças com o Emir da Arábia Saudita, com os ingleses e com os otomanos, emerge como a figura mais importante do Qatar. Em 1935 foi assinado um tratado com a Inglaterra para protecção perante ataques externos e em 1938 é feito o primeiro acordo de concessão de petróleo com os ingleses. O primeiro poço foi perfurado em Dukhan, em 1940.

O país assistiu então a uma crescente actividade económica devido à descoberta de vários poços de petróleo. A administração do Qatar foi tomando forma e o país tornou-se totalmente independente em 1970. Em 1971 começou a extracção de gás, após se ter percebido que o país tinha uma das maiores reservas do mundo.

Fonte principal: Ministério dos Negócios Estrangeiros do Qatar
Foto: a___sena | Forte de Zubara

Sobre o blogue

Não sou supersticiosa, mas começar um projecto numa sexta-feira 13, só pode ser sinal de sorte.

Há pouco mais de um ano, mudei-me para Doha, no Qatar, um pequeno país na península arábica. Nessa altura, começei quase por brincadeira a escrever uma pequenas frases no facebook, às quais chamei Crónicas do Deserto e onde ia contando algumas peripécias desta aventura. Sempre pensei que seria interessante ir contando aos meus amigos esta experiência, pois há muita curiosidade sobre um país com uma cultura tão diferente da nossa. Muitos foram os que me disseram que gostavam muito de seguir essas crónicas e, por outro lado, quando vou a Portugal continuo a ser "atacada" por questões e dúvidas sobre como é viver aqui. Por isso resolvi fazer este blogue.

Será quase um diário de bordo, um sítio onde vou escrevendo as minhas aventuras, experiências e algumas curiosidades sobre esta terra. Foi pensado principalmente para os meus amigos, mas penso que pode ajudar a compreender melhor o país e a cultura a um público mais vasto e quem sabe ajudar outros emigrantes como eu.